6 de dezembro de 2007

Com a agenda lotada

POR CLAUDIA SILVEIRA

Um bom emprego, um marido dedicado e filhos lindos. O sonho de muitas mulheres nem sempre significa felicidade. Por quê? Simples. Ao assumir um monte de funções e tentando agradar a todos, as mulheres acabam fazendo muitas tarefas das quais não gostam. Ao contrário dos homens, que evitam atividades que não lhes fazem bem.

Essa é a constatação de duas pesquisas recentes realizadas por universidades norte-americanas. Um dos levantamentos, feito pelos economistas Betsey Stevenson e Justin Wolfers, da Universidade da Pensilvânia, mostra que, nos anos 70, a mulher costumava gastar 23 horas por semana exercendo atividades que considerava desagradáveis. Quarenta minutos a mais do que os homens.

Hoje, elas continuam gastando o mesmo tempo em atividades das quais não gostam, enquanto seus parceiros passaram a desperdiçar ainda menos o seu tempo. A diferença entre os dois sexos subiu para 90 minutos.

A psicóloga clínica Patrícia Gugliotta, mestre em saúde mental pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), analisa os números como resultado da maior responsabilidade que a mulher adquiriu.

“Ao buscar a sua realização profissional, a mulher começou a levar dinheiro para dentro de casa, passou a ajudar na renda e a dividir as despesas. Mas as tarefas do lar continuaram com ela. Quando o homem resolve participar, é apenas para dar uma ajuda. Ele faz junto, não no lugar dela. As responsabilidades da mulher triplicaram”, observa.

No entanto, a psicóloga pondera que não dá para generalizar esses números. “Tem mulher que consegue se dividir em inúmeras funções e não se estressa com a sua realidade, já outras não conseguem se dividir em mil.”

Letícia Henrique, 38 anos, atriz, advogada, estudante universitária e apresentadora de TV, é um exemplo dessa mulher superatarefada que mantém a cuca fresca por priorizar momentos para fazer o que gosta. Ela trabalha, é responsável pelas contas da casa, tem um filho adolescente e não deixa de fazer o que gosta, como praticar atividades físicas e se entregar à manicure.

“Minha vida é uma correria e não consigo ficar parada. Quando tenho algum horário livre, arrumo alguma coisa para fazer. Mas não posso dizer que fico triste, sou muito feliz com isso tudo”, diz.

Letícia não vê problema em uma agenda lotada, mas afirma que passou a ser seletiva com a quantidade de trabalho que assume em função do seu bem-estar. “Hoje em dia, recuso trabalhos se percebo que serão desgastantes ou não me farão bem”, conta a apresentadora, mostrando que desenvolveu estratégias para gastar o seu tempo fazendo coisas que também podem dar prazer.

Reportagem publicada na Revista da Hora do dia 04/11/07