14 de dezembro de 2007

Leve a primavera para o seu prato


POR CLAUDIA SILVEIRA

A idéia de colocar uma flor na boca, mastigá-la, sentir o sabor e engoli-la não é novidade na culinária do dia-a-dia. Pelo menos para quem come alcachofra, brócolis ou couve-flor.

Esses alimentos, que são popularmente chamados de hortaliças ou verduras, na verdade, são flores. Excêntrico é quando se fala em comer flores ornamentais, como a calêndula, o hibisco, a rosa ou o cravo, ingredientes pouco populares na culinária brasileira.

A chegada da primavera pode ser o empurrãozinho que faltava para experimentar o sabor desses alimentos. A salada de alface, por exemplo, pode ficar muito mais bonita com o colorido de algumas pétalas.

O botânico Gil Felippe, autor do livro “Entre o Jardim e a Horta: as Flores que Vão para a Mesa” (ed. Senac São Paulo), sugere usar a criatividade e adicionar flores à água que virará gelo ou à gelatina.

Para Felippe, além do preconceito ao uso desse alimento na culinária, outro entrave para um prato florido é a pouca oferta no comércio. “São pouco os supermercados que têm flores”, observa.

A saída é cultivar as próprias flores comestíveis em um cantinho da casa, sai mais barato e nem dá tanto trabalho. O único cuidado deve ser com a contaminação.

“A planta pode até ser criada em vasos ou no jardim, mas deve ser protegida de insetos e de animais domésticos”, orienta Felippe.

Se há dúvida sobre qual flor ornamental cultivar, uma dica é optar pelo capuchinho, uma das mais populares entre as comestíveis.

A vantagem dela em relação às outras é que essa espécie contêm luteína, uma substância que atua prevenindo a degeneração macular, grande causa de cegueira entre os idosos.

“A capuchinho amarela é a que tem maior quantidade de carotenóides, mas não é toda flor amarela que tem essa substância”, diz a engenheira de alimentos Patrícia Yuasa Niizu, mestre em ciência dos alimentos pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

E não é porque é flor que será doce. “A vantagem da capuchinho em relação às outras flores é que ela não tem sabor floral. O gosto dela é um pouco picante e parecido com o do agrião.”

Mas não adianta comer uma flor de olho nos nutrientes porque os estudos sobre flores comestíveis são muito escassos no Brasil, e, para que o corpo sinta qualquer benefício, o consumo deveria ser em grande quantidade.

O que já se sabe é que as pétalas têm cerca de 90% de água em sua composição. Por isso, o ideal é optar por uma dieta equilibrada e florida, se possível.


Saiba mais

Qualquer flor é comestível?
Não. Muitas são venenosas ou tóxicas, contendo substâncias nocivas ao homem. Quem tem asma deve tomar cuidado ao ingerir pétalas de qualquer flor porque o pólen pode provocar forte reação alérgica. Uma dica para não correr riscos é consumir flores vendidas como comestíveis em supermercados, cultivadas em casa ou diretamente de produtores que seguem as regras de cultivo orgânico, sem agrotóxicos. Também não se deve colher flores na beira de estradas ou em parques públicos, pois elas podem ter sido contaminadas por substâncias químicas ou por animais.

Posso comer flores que se transformam em frutos?
Se todas as partes de uma planta ou do fruto que ela produz são comestíveis, a flor também é. Mas nem todas as flores dessas plantas têm gosto agradável. O jeito é experimentar e tirar as próprias conclusões.

Toda flor tem o mesmo sabor?
Não, mas, para saber o sabor de cada uma, só experimentando. As pétalas de violeta, rosa e lavanda têm gosto adocicado; a calêndula pode substituir o açafrão; e as flores das ervas aromáticas têm aroma mais acentuado que o das folhas.

Reportagem publicada no dia 30/09/2007