19 de dezembro de 2007

Quando a bicharada é maioria

POR CLAUDIA SILVEIRA

O gosto por animais de estimação chega a ser tão forte em algumas pessoas que elas não se contentem em ter apenas um companheiro, um casal ou, no máximo três para fazer-lhe companhia.

Esse é o caso da designer Denise Toni Lopez, 50 anos. Ela cria 12 gatos e chegou a trocar o apartamento onde vivia por uma casa que desse mais conforto para os seus felinos.

O primeiro gato, Brad, Denise ganhou há cerca de seis anos. Um ano depois, chegou o segundo, a fêmea Cindy. Seu companheiro de número 12 se juntou à família há dois meses, e a designer se prepara para adotar mais um. “Ele vive em uma gaiola há dois anos, e só preciso ir buscá-lo”, diz.

Pode até ser divertido ter um monte de animais de estimação, mas a bicharada dá um trabalho danado e exige tempo, dinheiro e paciência do criador. Denise chega a gastar R$ 500 por mês com seus gatos. A quantia não inclui doenças ou qualquer imprevisto, como acidentes.

“Todos os dias, eu tenho de trocar a areia da caixinha, passar aspirador de pó por toda a casa porque tem muito pêlo espalhado e, antes de dormir, coloco ração com patê de carne para eles comerem”, descreve Denise.

Mas não adianta achar que é só dar casa, comida e limpeza para deixar o animal feliz. “Se são muitos, o dono não tem condições de dar carinho e atenção para todos eles de forma igual. Isso pode acarretar em estresse”, alerta a veterinária Elisabeth Estevão, professora da Facis (Faculdade de Ciências da Saúde de SP).

Muitos bichos de estimação juntos formam o ambiente ideal para a proliferação de doenças e, quanto maior a convivência entre eles, mais fácil de um passar para o outro.

Se a relação entre todos for boa, ótimo. Se não, mais trabalho para o dono, que precisa fazer um rodízio de permanência entre os companheiros pela casa. “É importante promover um espaço de socialização e lazer e outro de privacidade”, orienta Elisabeth.

O hábito de recolher animais na rua ou em risco de morte pode até ser um hábito de extrema generosidade, mas não é visto com bons olhos pela psicóloga Kátia Aiello, especialista na relação entre homem e animais.

Segundo a psicóloga, pessoas que têm esse costume sentem uma enorme vontade de ajudar, mas, ao mesmo tempo, são infelizes por não conseguirem livrar todos os bichos do abandono. “Sempre vai existir um animal na rua, e a pessoa sempre vai sofrer por causa disso”, diz.

Em alguns casos, esse amor incondicional pelos bichos pode esconder um distúrbio de comportamento.

“Ter muitos animais deixa de ser saudável quando a pessoa extrapola suas condições de criar com conforto e higiene, não sabe a hora de parar e passa a viver em função deles”, exemplifica Kátia.

Antes de encher a casa de bichos de estimação, a dica não é se perguntar quantos animais adotar, mas quantos é possível criar com dignidade.


Como conviver em harmonia com muitos companheiros

- Cuide bem da alimentação dos seus animais. Não é porque você cria muitos que vai comprar uma ração mais barata e de menor qualidade nutricional para economizar

- Reunir vários bichos de estimação em um único espaço é sinônimo de muita sujeira. Não deixe os bichinhos em um local com fezes, urina e restos de comida

- Só crie muitos animais juntos se o espaço oferecido for suficiente para proporcionar conforto, privacidade e oportunidade de lazer

- Mantenha a saúde dos companheiros sob constante vigilância. Não dispense a ajuda do veterinário

- Para evitar períodos de cio e filhotes indesejados, é indicado castrar todos os animais que convivem juntos, independentemente do sexo

- Caso algum dos animais adoeça, separe-o dos demais para evitar contágio ou desconforto para o doente e ter condições de cuidar dele com mais atenção

Reportagem publicada na Revista da Hora do dia 19/11/06