28 de novembro de 2007

Fim da linha sem estresse

POR CLAUDIA SILVEIRA

Seria bom se o “até que a morte os separe” funcionasse para determinar a duração de um casamento. Mas, como essa regra não existe, e não há separações sem o mínimo de turbulência, é preciso ao menos ter boas maneiras, respeito pelo outro e consciência de que o momento é muito delicado para toda a família, tenha ela filhos ou não.

Os rompimentos, principalmente a separação conjugal, são considerados pela maioria dos especialistas em relacionamentos amorosos a segunda experiência emocional que mais leva à depressão. A primeira é a morte de pessoas próximas e queridas.

“Muitas separações conseguem reduzir a eficiência do sistema imunológico e predispor quadros de surtos emocionais, ainda que transitórios”, afirma o psicólogo Thiago de Almeida, autor do livro “Ciúme e Suas Conseqüências para os Relacionamentos Amorosos” (editora Certa).

Segundo Almeida, dificilmente alguém consegue se manter ileso a uma experiência de separação conjugal. “Mesmo quando se identifica um alívio com o fim do relacionamento, essa sensação vem intercalada de sentimentos de perda, vazio e desespero”, descreve.

E, já que o casal está longe de se sentir feliz, talvez seja melhor tentar prolongar a união antes de romper de vez. Para o psicólogo, vale a pena o casal reinvestir nas idéias, nas expectativas e nos valores que levaram os dois a ficar junto. Almeida alerta para a tendência de querer se separar logo que surge uma discussão mais séria ou quando o relacionamento dá sinais de desgastes.

“Um relacionamento não acaba de uma hora para a outra. Se está ruim, é preciso fazer alguma coisa, não necessariamente se separar”, orienta Margareth dos Reis, terapeuta sexual e de casais do Instituto H. Ellis.

A sugestão da psicóloga é rever constantemente o casamento. “Aquilo que o casal entendia como afinidade no começo da união precisa ser adaptado ao longo da convivência. As pessoas mudam, vêm os filhos, troca-se de emprego e até de cidade”, ressalta. “Mas é importante ter consciência do que deve ser preservado”.

Quando não dá mais

Mas, se todas as tentativas falham e o casal constata que não há mais condições de permanecer junto, é hora de dar início à separação. O doloroso período começa com um dos dois saindo de casa, deixando para trás uma história de parceria.

“Mesmo que não exista mais amor de homem e mulher, é um período bastante doloroso para todos”, observa Margareth. “A separação é o fim da sociedade conjugal, é o rompimento da vida sob o mesmo teto e o término do regime de bens”, explica Adriano Ryba, advogado especialista em causas de família e herança.

Ao se separar, o casal dá início à primeira de várias etapas que levam ao divórcio. “A separação é apenas uma das muitas decisões que serão tomadas no período. Somente ela não quer dizer que tudo acabou e que os dois são completamente livres”, esclarece a psicóloga Margareth.

“Quando um casal mora junto e decide acabar com a união, ele só pode se separar. Depois de um ano morando em casas diferentes, o casal pode se divorciar, exigência para que os dois possam se casar legalmente com outras pessoas”, esclarece Ryba.

Quando o casal já não mora junto há dois anos ou mais, o divórcio pode ser feito diretamente, afinal, os dois já deram fim à união há muito tempo. Tudo fica muito mais fácil quando há consenso entre o ex-casal: os dois podem decidir juntos como será a partilha e economizar dinheiro contratando o mesmo advogado.

Na separação amigável, todos saem ganhando. Os filhos verão que os pais continuam se respeitando e até os amigos ficarão mais felizes por não ter de ouvir um falando mal do outro constantemente.

“Na hora de fazer o acordo, é preciso que os dois sejam justos e honestos para que ninguém se arrependa depois”, orienta o advogado Luiz Fernando Gevaerd, autor do livro “O Guia do Bom Divórcio: Quando o Amor Acaba na Justiça” (Atlântica Editora).

Mas não adianta se iludir, divórcio bom não existe. O problema fica ainda pior quando uma das partes não concorda com o que a outra quer e parte para a guerra. Aí, tem início o divórcio litigioso, com um desgaste maior tanto emocional quanto financeiro. O que era ruim se torna infernal. Nesses casos, é o juiz quem decide com quem fica a guarda dos filhos, a agenda de visitas e o valor da pensão alimentícia.

Depois de algum tempo de divórcio, se alguma das partes se sentir injustiçada por ficar pouco tempo com os filhos ou a pensão alimentícia passar a ser insuficiente, há como pedir uma revisão das cláusulas do divórcio. “Mas é importante ter consciência de que a pensão é estabelecida de acordo com as necessidades de quem pede e as condições de quem paga”, adianta Gevaerd.

Como no casamento, não dá para pedir mais do que o outro pode dar. Mas ajuda bastante abusar da civilidade para ter uma vida pré, pós e durante o divórcio o menos traumatizante possível. A partir daí, é respirar fundo, recuperar o fôlego e a auto-estima.

Pais devem preservar os filhos da instabilidade gerada pelo divórcio

Se o processo de separação já é difícil para os adultos, quem dirá para os filhos. Seja por ingenuidade ou por estar no meio da turbulência, muitas vezes, o casal não consegue diferenciar pai e mãe de homem e mulher.

O ideal é preservá-los, independentemente da idade que tenham, e evitar que eles presenciem brigas ou sejam alvo de chantagens. “Jogos emocionais são a pior coisa que um pai ou uma mãe podem fazer”, alerta a psicóloga Sandra Dias, doutora em psicologia clínica e professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

A psicóloga afirma que um pai falar mal da mãe para os filhos ou vice-versa também não é uma conduta indicada. “A criança pode até aderir à causa de um dos pais para sair do conflito, mas isso é dilacerante para ela e pode trazer conseqüências no futuro”.

Como pais, os dois devem ter compromisso com a saúde física e mental dos filhos, que esperam ser amados, independentemente do fim do relacionamento conjugal. Pode parecer improvável, mas, em alguns casos, cada um ir para um lado pode fazer bem aos filhos. “Se o pai e a mãe brigam constantemente e põem a criança no meio, a separação trará alívio para todos”, afirma Sandra.

De acordo com a psicóloga, outra condição em que o divórcio deve ser feito de qualquer jeito é quando um dos pais é prejudicial à formação ou representa perigo físico ou psicológico ao outro. “Nesses casos, é melhor que os dois se separarem mesmo”, diz.

Crises não precisam terminar em divórcio

Administrar um casamento não é fácil mesmo. Principalmente quando os dois estão passando por uma crise que parece não ter fim. Na hora do desespero, é impossível não achar que o divórcio é a única saída.

Mas, antes de tomar uma decisão precipitada, o casal pode testar o casamento tirando férias conjugais, por exemplo. “Nessa hora, toda iniciativa é positiva se for de comum acordo”, afirma a psicóloga e terapeuta sexual Margareth dos Reis. Mas é bom não esquecer que essa folga tem data para terminar.

Se quando voltarem, os dois tiverem um monte de novidades para pôr em dia e quiserem ficar a sós para matar a saudade, bingo! Foram feitos um para o outro.


Especialistas ajudam a identificar problemas no relacionamento

Vocês já chegaram ao consenso de que o casamento está por um fio. Também já conversaram sobre divórcio e sabem que existe a possibilidade de cada um ir para o seu lado, mas ainda resistem em aceitar que o amor acabou e que os planos para o futuro terão de ser desfeitos.

Antes de assinar os papéis, há uma infinidade de “segundas chances” ao relacionamento. Uma delas é a terapia de casal. “A ajuda profissional pode ser muito importante porque o casal se perde no meio de todo o processo. Se os dois tiverem disposição para fazer terapia juntos, ótimo”, avalia a psicóloga Margareth dos Reis.

Quando estiverem juntos em casa, pratiquem alguns rituais de aproximação. O escritor William J. Doherty sugere em seu livro “Resgate o seu Casamento” (Versus Editora), começar tirando a televisão do quarto e dando um descanso ao aparelho da sala.

“Passem um tempo maior de descanso juntos. Voltem a namorar. Saiam para um programa espontâneo ou planejem um agora mesmo”, sugere o autor.

Buscar apoio dos amigos e de outros casais que passaram pela mesma situação, deram a volta por cima e seguem mais felizes do que nunca também ajuda.

Atores deixaram filho de fora da separação

A atriz Nívea Stelmann está divorciada do ator Mário Frias há mais de dois anos, mas o ex-casal convive numa boa, graças ao filho dos dois, Miguel, que tem três anos. “Nós temos uma relação ótima, e eu me dou muito bem com a atual namorada do Mário”, conta Nívea.

Para a atriz, o que tornou o processo de divórcio menos traumatizante para todos, principalmente para a criança, foi sair do olho do furacão e “olhar a situação por cima”. Depois que o período de turbulência passou, ficou a amizade.

“Dá uma sensação de fracasso horrível, mas na época pensei: ‘Não sou a primeira nem serei a última mulher a fazer isso’. Também nos preocupamos em não envolver o nosso filho na crise”, conta Nívea, que está casada de novo e “pela última vez”, comemora.

Casal colocou o filho em primeiro lugar

Quando o casamento do empresário Paulo Mercatto, 50 anos, com a professora de mandarim Teresa Hsu Yeng Ting, 45 anos, chegou ao fim, o filho deles, Georg, 11 anos, era apenas um bebezinho.

Desde então, os dois deixaram de lado os desentendimentos de homem e mulher para que prevalecesse a harmonia entre pai e mãe. “Nós tentamos preservar a integridade do nosso filho porque ele não tinha nada a ver com os nossos problemas”, conta Teresa.

Assim, Georg foi morar com o pai para ficar mais perto da escola escolhida pelos dois. A guarda é compartilhada, e o menino tem a liberdade de passar uma noite com a mãe, por exemplo, caso a saudade fique muito forte.

“Tudo o que envolve nosso filho é escolhido em comum. Não é saudável fazer uma disputa sobre quem tem mais poder de decisão sobre a criança”, diz a mãe. Com harmonia, todos saem ganhando. “O amor não tem hora marcada. Não dá para prever com antecedência quando um pai quer ver o filho”, filosofa Mercatto.

Para atriz, diálogo evita desentendimentos

O casamento da atriz Guilhermina Guinle com o ator José Wilker terminou em meados de dezembro do ano passado, mas o fim da união só veio a público em fevereiro deste ano.

De lá para cá, a separação da atriz foi notícia mesmo quando os dois não estavam mais juntos há meses. Tudo porque a bela assumia que continuava amiga do ex, o que desmentia os boatos de que os ex-pombinhos poderiam estar se reconciliando.

“Qualquer relacionamento meu é com muito diálogo, em qualquer fase que ele esteja. Acredito que é preciso existir uma boa comunicação entre os dois, não importa se um dos dois quer seguir um rumo diferente”, diz Guilhermina.

Ex-marido é exemplo para divorciada

Foi a diretora de escola Ademilda Ancelmo de Oliveira, 42 anos, quem pediu o divórcio, há quatro anos.

“O processo de separação foi tranqüilo, tirando o tumulto emocional e o fato de termos dois filhos juntos. No início, o meu ex-marido também não queria se separar”, conta. Atualmente, com a separação estabelecida e com cada um vivendo a sua vida, Ademilda tem o ex-marido como um exemplo.

"Todos os homens que se separam deviam ser como ele, que nunca foi contra a minha vontade. Quando ele percebeu que não tinha mais volta, respeitou minha decisão e saiu de casa”, relembra. Hoje, eles convivem em harmonia, “respeitando os limites do bom senso”.

Consultor já se divorciou duas vezes

O consultor de vendas Leandro Trigo, 32 anos, já se divorciou duas vezes e diz se dar bem com as ex-mulheres, principalmente com a primeira, com quem ficou casado três anos e tem um filho de nove. “Eu acredito no casamento, por isso fiquei meio frustrado”, revela o jovem, que está recém-divorciado. Sua segunda união durou dois anos.

Trigo conta que sofreu nas duas separações. “Abrir mão de uma pessoa é complicado para o ser humano por causa do sentimento de posse. Mas, em um relacionamento, a gente sabe que os dois têm de estar felizes. Quando um percebe que não está mais feliz, não pode conviver com a tristeza e achar que é algo normal”, filosofa.

O consultor diz que tem a consciência tranqüila, principalmente com o fim do segundo casamento. “A gente tentou de várias maneiras dar certo. Fizemos terapia de grupo e individual, tentamos uma segunda lua-de-mel, mas não deu”, lamenta.

Reportagem publicada na Revista da Hora do dia 23/10/07