Seria bom se o “até que a morte os separe” funcionasse para determinar a duração de um casamento. Mas, como essa regra não existe, e não há separações sem o mínimo de turbulência, é preciso ao menos ter boas maneiras, respeito pelo outro e consciência de que o momento é muito delicado para toda a família, tenha ela filhos ou não.
Os rompimentos, principalmente a separação conjugal, são considerados pela maioria dos especialistas em relacionamentos amorosos a segunda experiência emocional que mais leva à depressão. A primeira é a morte de pessoas próximas e queridas.
“Muitas separações conseguem reduzir a eficiência do sistema imunológico e predispor quadros de surtos emocionais, ainda que transitórios”, afirma o psicólogo Thiago de Almeida, autor do livro “Ciúme e Suas Conseqüências para os Relacionamentos Amorosos” (editora Certa).
Segundo Almeida, dificilmente alguém consegue se manter ileso a uma experiência de separação conjugal. “Mesmo quando se identifica um alívio com o fim do relacionamento, essa sensação vem intercalada de sentimentos de perda, vazio e desespero”, descreve.
E, já que o casal está longe de se sentir feliz, talvez seja melhor tentar prolongar a união antes de romper de vez. Para o psicólogo, vale a pena o casal reinvestir nas idéias, nas expectativas e nos valores que levaram os dois a ficar junto. Almeida alerta para a tendência de querer se separar logo que surge uma discussão mais séria ou quando o relacionamento dá sinais de desgastes.
“Um relacionamento não acaba de uma hora para a outra. Se está ruim, é preciso fazer alguma coisa, não necessariamente se separar”, orienta Margareth dos Reis, terapeuta sexual e de casais do Instituto H. Ellis.
A sugestão da psicóloga é rever constantemente o casamento. “Aquilo que o casal entendia como afinidade no começo da união precisa ser adaptado ao longo da convivência. As pessoas mudam, vêm os filhos, troca-se de emprego e até de cidade”, ressalta. “Mas é importante ter consciência do que deve ser preservado”.
“Mesmo que não exista mais amor de homem e mulher, é um período bastante doloroso para todos”, observa Margareth. “A separação é o fim da sociedade conjugal, é o rompimento da vida sob o mesmo teto e o término do regime de bens”, explica Adriano Ryba, advogado especialista em causas de família e herança.
Ao se separar, o casal dá início à primeira de várias etapas que levam ao divórcio. “A separação é apenas uma das muitas decisões que serão tomadas no período. Somente ela não quer dizer que tudo acabou e que os dois são completamente livres”, esclarece a psicóloga Margareth.
“Quando um casal mora junto e decide acabar com a união, ele só pode se separar. Depois de um ano morando em casas diferentes, o casal pode se divorciar, exigência para que os dois possam se casar legalmente com outras pessoas”, esclarece Ryba.
Quando o casal já não mora junto há dois anos ou mais, o divórcio pode ser feito diretamente, afinal, os dois já deram fim à união há muito tempo. Tudo fica muito mais fácil quando há consenso entre o ex-casal: os dois podem decidir juntos como será a partilha e economizar dinheiro contratando o mesmo advogado.
Na separação amigável, todos saem ganhando. Os filhos verão que os pais continuam se respeitando e até os amigos ficarão mais felizes por não ter de ouvir um falando mal do outro constantemente.
“Na hora de fazer o acordo, é preciso que os dois sejam justos e honestos para que ninguém se arrependa depois”, orienta o advogado Luiz Fernando Gevaerd, autor do livro “O Guia do Bom Divórcio: Quando o Amor Acaba na Justiça” (Atlântica Editora).
Mas não adianta se iludir, divórcio bom não existe. O problema fica ainda pior quando uma das partes não concorda com o que a outra quer e parte para a guerra. Aí, tem início o divórcio litigioso, com um desgaste maior tanto emocional quanto financeiro. O que era ruim se torna infernal. Nesses casos, é o juiz quem decide com quem fica a guarda dos filhos, a agenda de visitas e o valor da pensão alimentícia.
Depois de algum tempo de divórcio, se alguma das partes se sentir injustiçada por ficar pouco tempo com os filhos ou a pensão alimentícia passar a ser insuficiente, há como pedir uma revisão das cláusulas do divórcio. “Mas é importante ter consciência de que a pensão é estabelecida de acordo com as necessidades de quem pede e as condições de quem paga”, adianta Gevaerd.
Como no casamento, não dá para pedir mais do que o outro pode dar. Mas ajuda bastante abusar da civilidade para ter uma vida pré, pós e durante o divórcio o menos traumatizante possível. A partir daí, é respirar fundo, recuperar o fôlego e a auto-estima.
Se o processo de separação já é difícil para os adultos, quem dirá para os filhos. Seja por ingenuidade ou por estar no meio da turbulência, muitas vezes, o casal não consegue diferenciar pai e mãe de homem e mulher.
O ideal é preservá-los, independentemente da idade que tenham, e evitar que eles presenciem brigas ou sejam alvo de chantagens. “Jogos emocionais são a pior coisa que um pai ou uma mãe podem fazer”, alerta a psicóloga Sandra Dias, doutora em psicologia clínica e professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
A psicóloga afirma que um pai falar mal da mãe para os filhos ou vice-versa também não é uma conduta indicada. “A criança pode até aderir à causa de um dos pais para sair do conflito, mas isso é dilacerante para ela e pode trazer conseqüências no futuro”.
De acordo com a psicóloga, outra condição em que o divórcio deve ser feito de qualquer jeito é quando um dos pais é prejudicial à formação ou representa perigo físico ou psicológico ao outro. “Nesses casos, é melhor que os dois se separarem mesmo”, diz.
Administrar um casamento não é fácil mesmo. Principalmente quando os dois estão passando por uma crise que parece não ter fim. Na hora do desespero, é impossível não achar que o divórcio é a única saída.
Mas, antes de tomar uma decisão precipitada, o casal pode testar o casamento tirando férias conjugais, por exemplo. “Nessa hora, toda iniciativa é positiva se for de comum acordo”, afirma a psicóloga e terapeuta sexual Margareth dos Reis. Mas é bom não esquecer que essa folga tem data para terminar.
Se quando voltarem, os dois tiverem um monte de novidades para pôr em dia e quiserem ficar a sós para matar a saudade, bingo! Foram feitos um para o outro.
Vocês já chegaram ao consenso de que o casamento está por um fio. Também já conversaram sobre divórcio e sabem que existe a possibilidade de cada um ir para o seu lado, mas ainda resistem em aceitar que o amor acabou e que os planos para o futuro terão de ser desfeitos.
Antes de assinar os papéis, há uma infinidade de “segundas chances” ao relacionamento. Uma delas é a terapia de casal. “A ajuda profissional pode ser muito importante porque o casal se perde no meio de todo o processo. Se os dois tiverem disposição para fazer terapia juntos, ótimo”, avalia a psicóloga Margareth dos Reis.
Quando estiverem juntos em casa, pratiquem alguns rituais de aproximação. O escritor William J. Doherty sugere em seu livro “Resgate o seu Casamento” (Versus Editora), começar tirando a televisão do quarto e dando um descanso ao aparelho da sala.
“Passem um tempo maior de descanso juntos. Voltem a namorar. Saiam para um programa espontâneo ou planejem um agora mesmo”, sugere o autor.
Buscar apoio dos amigos e de outros casais que passaram pela mesma situação, deram a volta por cima e seguem mais felizes do que nunca também ajuda.
Desde então, os dois deixaram de lado os desentendimentos de homem e mulher para que prevalecesse a harmonia entre pai e mãe. “Nós tentamos preservar a integridade do nosso filho porque ele não tinha nada a ver com os nossos problemas”, conta Teresa.
Assim, Georg foi morar com o pai para ficar mais perto da escola escolhida pelos dois. A guarda é compartilhada, e o menino tem a liberdade de passar uma noite com a mãe, por exemplo, caso a saudade fique muito forte.
“Tudo o que envolve nosso filho é escolhido em comum. Não é saudável fazer uma disputa sobre quem tem mais poder de decisão sobre a criança”, diz a mãe. Com harmonia, todos saem ganhando. “O amor não tem hora marcada. Não dá para prever com antecedência quando um pai quer ver o filho”, filosofa Mercatto.
O casamento da atriz Guilhermina Guinle com o ator José Wilker terminou em meados de dezembro do ano passado, mas o fim da união só veio a público em fevereiro deste ano.
De lá para cá, a separação da atriz foi notícia mesmo quando os dois não estavam mais juntos há meses. Tudo porque a bela assumia que continuava amiga do ex, o que desmentia os boatos de que os ex-pombinhos poderiam estar se reconciliando.
“Qualquer relacionamento meu é com muito diálogo, em qualquer fase que ele esteja. Acredito que é preciso existir uma boa comunicação entre os dois, não importa se um dos dois quer seguir um rumo diferente”, diz Guilhermina.
“O processo de separação foi tranqüilo, tirando o tumulto emocional e o fato de termos dois filhos juntos. No início, o meu ex-marido também não queria se separar”, conta. Atualmente, com a separação estabelecida e com cada um vivendo a sua vida, Ademilda tem o ex-marido como um exemplo.
"Todos os homens que se separam deviam ser como ele, que nunca foi contra a minha vontade. Quando ele percebeu que não tinha mais volta, respeitou minha decisão e saiu de casa”, relembra. Hoje, eles convivem em harmonia, “respeitando os limites do bom senso”.
Consultor já se divorciou duas vezes
O consultor de vendas Leandro Trigo, 32 anos, já se divorciou duas vezes e diz se dar bem com as ex-mulheres, principalmente com a primeira, com quem ficou casado três anos e tem um filho de nove. “Eu acredito no casamento, por isso fiquei meio frustrado”, revela o jovem, que está recém-divorciado. Sua segunda união durou dois anos.
Trigo conta que sofreu nas duas separações. “Abrir mão de uma pessoa é complicado para o ser humano por causa do sentimento de posse. Mas, em um relacionamento, a gente sabe que os dois têm de estar felizes. Quando um percebe que não está mais feliz, não pode conviver com a tristeza e achar que é algo normal”, filosofa.
O consultor diz que tem a consciência tranqüila, principalmente com o fim do segundo casamento. “A gente tentou de várias maneiras dar certo. Fizemos terapia de grupo e individual, tentamos uma segunda lua-de-mel, mas não deu”, lamenta.
Reportagem publicada na Revista da Hora do dia 23/10/07